WANDA MONTEIRO
( Pará )
Wanda Benedicto Marques Monteiro nasceu no dia 21 de março de 1958, em Alenquer, lado Oeste do Pará. Filha do também escritor Benedicto Monteiro, herdou do pai a veia poética e a voz militante, usando da literatura a extensão mais profunda de sua alma. Autora de diversos obras, entre ensaios, poemas, contos e romances, publicou recentemente o livro “A liturgia do tempo e outros silêncios”, pela Editora Patuá.
Amazônida nascida à margem esquerda do rio Amazonas, no Pará, Wanda Monteiro canta a natureza de sua terra sempre de forma ávida, poética e original. Além dos livros, tem seus textos publicados nas principais revistas literárias do país, tanto impressas como virtuais, tais como: Acrobata, Gueto, Mallarmagens, Ruído Manifesto, Diversos Afins, LiteratuaBR, entre outros veículos.
Morando desde 1987 na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, Wanda é uma ativista da poesia, participando dos mais variados movimentos de incentivo à leitura no Brasil.
Texto e foto acima, extraídos de : https://recantodopoeta.com/
VII ANUÁRIO DA POESIA PARAENSE. Airton Souza organizador. Belém: Arca Editora, 2021. 221 p. ISBN 978-65-990875-5-4
Ex. bibl. Antonio Miranda
Oroburus
Ao meio dia um galo branco cantou
em minha janela
nesse instante fiquei a pensar na palavra deus e ao meu modo creio o
mundo é feito de palavras
esse deus pertence a quem o escreve e quem lhe inventa o momento
primeiro
e lhe dá forma e lhe diz do derradeiro
esse canto ao meio dia desse dia
em que eu assim como o galo
desaprendi a língua dos relógios
me fez lembra de que eu esqueci o nome dos dias e dos meses e me
fez querer desinventar este ano que termina na palavra vinte
e me fez pensar na palavra deus
e no desejo de caminhar no rastro do começo
lá onde tudo era nu e sem nome
no chão do princípio onde irrompe a luz
na dobra do que não era tempo
na quebra do silêncio
acordei hoje ao canto desse galo branco
ao meio desse dia de palavra calendária inventada e escrita pelo
humano
e fiquei a pensar que tudo que sabemos é o tudo que lembramos
ou é o tudo que lembraram por nós
assim sabemos quando lembramos do salmo escrito por um ancião
que
nem nasceu ou lembramos de um continente que já foi mar ou
lembramos da corredeira de um rio que já secou ou lembramos
de uma língua que já morreu
um galo branco em minha janela cantou
me acordou e me fez pensa na palavra deus
e na palavra tempo
esse tempo-deus uma palavra
escrita em linhas de sombras
esse deus erguido e fechado em oroburos palavra que vinga – retorna
e nos aprisiona no tempo do sem fim
dessa aldeia circunscrita ao verbo
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Página publicada em março de 2022
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